sábado, 8 de maio de 2010

Operações urbanas, do sonho à realidade



07 de maio de 2010 | 22h 00 - O Estado de São Paulo

Nadia Somekh*
SÃO PAULO - Foi com grata satisfação que assistimos à apresentação da proposta de operações urbanas da Prefeitura de São Paulo, entretanto ficamos com uma série de questões sem respostas. De positivo, fica a busca por ações de sustentabilidade contra o aquecimento global, adequadas às intervenções contemporâneas pós Kioto/Copenhagen, e a procura por uma cidade compacta, de ocupação mais racional e menos predatória dos recursos naturais, com intervenções há muito esperadas e defendidas por quem deseja uma São Paulo mais bonita e menos desigual.
Estão presentes no projeto apresentado o enterramento da ferrovia, a derrubada do Minhocão e a construção de habitações de interesse social. Como dúvidas, ficam a fonte de recursos bem como os prazos de implementação, as formas de gestão urbana e metropolitana e ainda quais as intervenções de ampliação de mobilidade urbana para obtenção da cidade mais compacta.
Em relação à Via Parque, eixo estrutural das Operações Urbanas, advinda do enterramento da ferrovia com 12 quilômetros de extensão, as ações podem ser divididas em três tipos.
O primeiro é de caráter ambiental, no modelo de Seul, de recuperação do rio Tamaduateí e dos córregos Tiburtino, Curtume, Água Branca, Água Preta e Sumaré, entre outros, utilizando os leitos d'água reabertos como elementos paisagísticos, e ampliando as áreas permeáveis através de novas praças públicas e ruas arborizadas.
Há também um segundo grupo de intervenções clássicas, voltadas para ampliação do sistema viário, priorizando principalmente o transporte individual. Nelas, não há preocupação com investimentos em transporte coletivo, que poderiam viabilizar a cidade mais racional que se busca. Estão previstas as ampliações de várias vias estruturais, restaurando as cicatrizes deixadas pela ferrovia e pela derrubada do Minhocão, do Terminal Barra Funda e a construção de um novo na Lapa.
Essas novas vias passam pela remoção de favelas, como a do Moinho, sem previsão de um número compatível de habitações populares. Finalmente, um conjunto de requalificação de espaços públicos e edifícios históricos, com o objetivo louvável de atrair atividades e criar referencias urbanas. O modelo proposto para viabilizar tudo isso é a multiplicação da concessão urbanística aplicado na Nova Luz, e que tarda a dar resultados concretos, o que é uma temeridade.
Embora queiramos acreditar que São Paulo mereça grandes intervenções que a torne mais atrativa e contemporânea, resta a incredulidade da viabilidade proposta. Quais os instrumentos de gestão metropolitana e urbana? Quais os instrumentos financeiros? Quais os instrumentos de inclusão social necessários para transformar o sonho em realidade?
*Professora da FAU Mackenzie e Conselheira IAB/UIADP

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