segunda-feira, 2 de maio de 2016

Complexo viário será entregue pela metade na zona sul

01/05/2016  - O Estado de SP

SÃO PAULO - Com atraso e de forma incompleta, a gestão Fernando Haddad (PT) inaugura neste mês um complexo viário na Marginal do Pinheiros, na zona sul da capital. Apenas a Ponte Laguna, que dará acesso à pista no sentido Interlagos, está pronta. O projeto ainda inclui a Ponte Itapaiúna, a cargo da iniciativa privada e que está atrasada, e o prolongamento da Avenida Doutor Chucri Zaidan, que nem sequer começou. Esta última obra é considerada a mais cara e complexa do pacote e travou por causa da dificuldade de a Prefeitura desapropriar 264 imóveis situados no trajeto da nova via.

Prevista inicialmente para janeiro, a Ponte Itapaiúna, que fará o caminho contrário, no sentido centro, só deve ser aberta para o tráfego de veículos em setembro. A cargo da Odebrecht, é uma contrapartida da construtora por dois grandes empreendimentos multiúso erguidos na região. A Prefeitura os classificou como polos geradores de tráfego e, por isso, exigiu da empresa uma compensação pelo impacto no trânsito local, já bastante carregado. Juntas, as duas pontes têm custo estimado de R$ 300 milhões.

A Ponte Itapaiúna será alternativa para os moradores do Portal do Morumbi, por exemplo, que precisam cruzar o rio no sentido Santo Amaro ou só voltar para o centro. A obra terá três faixas de rolamento e um vão-livre sobre o rio de 112 metros.

A 900 metros de distância e em fase de finalização – só faltam ajustes na sinalização das pistas –, a Ponte Laguna foi custeada inteiramente com recursos municipais arrecadados com a venda de títulos imobiliários dentro da Operação Urbana Água Espraiada, lei de 2001 – verba carimbada e já reservada no Orçamento. Apesar do dinheiro em caixa, a obra atrasou quatro meses. Na previsão inicial, a conclusão teria acontecido em dezembro. Agora, o plano é correr com a inauguração até o meio deste mês. A estrutura ligará o bairro do Brooklin à Rua Laguna, do outro lado do Rio Pinheiros. Tem três faixas e ciclovia com acesso direto ao Parque Burle Marx.

Complementares. As Pontes Laguna e Itapaiúna foram projetadas para operar de forma complementar. Com pistas de mão única em sentidos opostos, formam um sistema binário que, para funcionar a contento, precisa ser inaugurado conjuntamente. Para o consultor em Engenharia de Tráfego Flamínio Fichmann, com a abertura apenas de uma das obras, a Prefeitura só conseguirá aliviar o trânsito no sentido bairro e no período da tarde.

“Mas o maior nó no tráfego ali é registrado de manhã, na direção centro. Por isso, a administração deve cobrar da empresa a conclusão da Itapaiúna. Mesmo sendo uma obra de contrapartida, sem verba pública, deve ter o prazo cumprido”, diz. A Odebrecht, investigada na Operação Lava Jato, não informou o motivo da redução do ritmo das obras que, até o ano passado, estavam mais adiantadas que as da Ponte Laguna.

Responsável pela fiscalização, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana informou que a Itapaiúna está com 85% das obras concluídas. Segundo a pasta, apesar da complementaridade, cada uma pode atuar no trânsito de forma independente, uma vez que funcionam também como retornos sobre o rio. A expectativa é de que as pontes aliviem os gargalos existentes hoje sobre as Pontes João Dias e Transamérica, além da Avenida Guido Caloi, na mesma região. 

Até a conclusão da segunda ponte, porém, o número de carros nas pistas da Marginal, no sentido Interlagos, deve aumentar, podendo até piorar os congestionamentos na região de forma temporária.

Atrasos. O arquiteto e urbanista Valter Caldana explica que, apesar do atraso, as obras das pontes estão adiantadas em relação a outras obras de transportes, como corredores de ônibus. Haddad, até agora, só está construindo 66,3 quilômetros dos 150 km que prometeu há quatro anos. Para o especialista, a complexidade de obras direcionadas ao transporte de massa explica parte da demora. Os corredores também são alvo de questionamentos do Tribunal de Contas do Município (TCM).

“Historicamente atrasamos o planejamento inicial por falhas em projetos, redução de investimentos e opção política mesmo. Construir pontes é mais fácil, apesar de não parecer. Seguimos um padrão já conhecido e que funciona. Mas o resultado dessa escolha é ruim para a cidade”, diz.

Para Fichmann, uma solução seria usar mais recursos de operações urbanas em obras de transporte público ou exigir de grandes empreendimentos corredores, em vez de pontes.

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