sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Comissão da Câmara aprova fim do Minhocão

28/11/2014 - O Estado de SP

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal aprovou ontem o projeto que desativa o Elevado Costa e Silva e cria o Parque Minhocão. A proposta, assinada por oito vereadores e prevista para ser implementada no Plano Diretor aprovado em julho, segue agora para votação em plenário.

O fim do Minhocão deve entrar na pauta de votação do final do ano, em um pacote que inclui 11 propostas do Executivo e mais de 120 projetos de lei de vereadores. Os sete vereadores da CCJ votaram favoráveis ao projeto, hoje encabeçado dentro do Legislativo pelos vereadores Nabil Bonduki (PT), arquiteto, e Police Neto (PSD), cientista social.

Com o apoio cada vez maior de associações, coletivos do centro, moradores da região de Santa Cecília e ambientalistas, o fim do Minhocão também tem adesão de parte da equipe da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Os técnicos do governo e o prefeito, porém, já alertaram que a cidade precisa de uma alternativa viária, já que o Elevado, que faz a ligação entre as regiões oeste e leste da cidade, tem fluxo médio de 6 mil carros em cada sentido – movimento igual ao da Avenida 23 de Maio, por exemplo.

Na sessão de ontem da CCJ, realizada no início do tarde de ontem, no mesmo tempo em que era realizado no Tribunal de Justiça o julgamento do aumento do IPTU, contou com a presença apenas dos sete vereadores da comissão e de alguns poucos assessores. Entre as outras propostas aprovadas, está também o texto dos vereadores tucanos Floriano Pesaro e Aurélio Nomura que garantem o direito de casais homossexuais serem atendidos em programas habitacionais da Cohab.

Alternativas. Para Police Neto, o momento agora, com o projeto no plenário da Câmara, é chamar a sociedade e os governos federal e do Estado para a discussão.

"Temos a Linha 6 laranja do Metrô, já em construção e que vai cruzar a Marginal Tietê e passar pela Barra Funda, por toda a região das universidades da zona oeste. Já é uma opção. Outra opção é o Expresso Norte, projeto pelo Estado para 2020, que vai passar pela região central, pelo Minhocão inteiro, pela Marginal e sobe a zona norte até Perus", argumentou o vereador.

"Só temos agora de criar meios, como uma zona de impacto do Minhocão, para impedir a especulação imobiliária na região. Quem viveu 40 anos com o Minhocão não pode ser penalizado agora com aluguéis mais caros na hora que tudo vai ficar bom", acrescentou Police Neto.

Memória. O Plano Diretor Estratégico (PDE), em vigor desde agosto, estabelece que o trânsito no Minhocão deve ser desativado aos poucos. Porém, para que isso ocorra, é necessário aprovar uma lei específica a respeito do tema. O projeto de lei 10/2014, apresentado pelos vereadores Aurélio Nomura (PSDB), George Hato (PMDB), Nabil Bonduki (PT), Gilberto Natalini (PV), Goulart (PSD), José Police Neto (PSD), Ricardo Young (PPS) e Toninho Vespoli (PSOL), teve a primeira audiência pública no início de setembro.

Na época, não houve consenso. Parte dos moradores do entorno quer um parque, outros a demolição completa do Minhocão, que abriu para o tráfego em 1970. Há urbanistas, ainda, que prevêem um grande aumento no preço do metro quadrado da região central se o Minhocão for derrubado, o que pode levar à expulsão de boa parte dos moradores mais pobres da área. Para evitar a especulação imobiliária, defendem, seria preciso criar travas à elevação dos preços dos aluguéis.

O Minhocão foi idealizado pelo arquiteto Luiz Carlos Gomes Cardim Sangirardi, do Departamento de Urbanismo da Prefeitura. Em sua proposta, apresentada em 1968 ao prefeito Faria Lima, a estrutura elevada seguiria aé a Praça Marechal Deodoro. O então prefeito recusou o projeto, mas o remeteu à Câmara, reservando a área necessária para a execução da obra, "se outro prefeito se interessasse por ela", noticiava o Estado de 1.º de dezembro de 1970.

Com a posse de Paulo Maluf ao cargo, a ideia renasceu. Dessa vez, propôs-se a extensão do elevado até o Largo Padre Péricles, em Perdizes, na zona oeste. O Estado publicava: "Maluf precisava de uma obra grandiosa ('um circo no centro da cidade', segundo seus assessores) e de rápida execução, para se perpetuar como prefeito da cidade. Com isso, atingia outro objetivo: apagar a imagem de Faria Lima, que teria sempre seu nome associado à construção do metrô, desviando as verbas para a via elevada."

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Após pressão de comerciantes, CET apaga ciclovia em Higienópolis

14/11/2014 - O Estado de SP


SÃO PAULO - Após pressão de comerciantes da Praça Vilaboim, em Higienópolis, na região central da capital paulista, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) está apagando um trecho da ciclovia que passa pelo local desde o início de setembro. Uma grossa tinta cinza começou a cobrir, na noite de terça-feira, 12, a faixa exclusiva para as bikes, que é vermelha, diante de uma série de estabelecimentos comerciais, a maioria do setor gastronômico. Ciclistas criticam a alteração e afirmam que a medida prioriza os carros em detrimento das magrelas.

Cerca de 60 metros da ciclovia já foram removidos. Com isso, ciclistas que vêm pedalando da Rua Armando Penteado de repente ficam sem sinalização própria, entrando no meio do trânsito motorizado. De acordo com a CET, a ciclovia será remanejada para a Rua Aracaju, ao lado da praça. Depois disso, prosseguirá pelo caminho já existente, na Rua Piauí. A previsão é que a atual ciclovia seja totalmente apagada até o fim de semana. O prazo para a construção do novo trecho é a semana que vem.

Cerca de 60 metros da ciclovia já foram removidos. Com isso, ciclistas que vêm pedalando da Rua Armando Penteado de repente ficam sem sinalização própria, entrando no meio do trânsito motorizado.

De acordo com a CET, a ciclovia será remanejada para a Rua Aracaju, ao lado da praça.

Depois disso, prosseguirá pelo caminho já existente, na Rua Piauí. A previsão é que a atual ciclovia seja totalmente apagada até o fim de semana.

Proprietário da padaria Barcelona, na esquina das Ruas Armando Penteado e Alagoas, Vicente Safon, de 65 anos, é um dos envolvidos no processo que levou à desmontagem da ciclovia. "Fizemos até um abaixo-assinado contra. Só aqui, juntei mais de 500 assinaturas", diz. "O trânsito em São Paulo é cada vez mais caótico e as ciclovias têm que ser planejadas direito, o que faltou aqui. Tem um comércio ao lado do outro e os carros precisam parar na frente. Ficou uma confusão danada."

Sobre a alteração prevista pela CET, de colocar a ciclovia no lado oposto da Praça Vilaboim, Safon diz: "Não sei se não vão trocar seis por meia dúzia." Ele afirma não ser contra ciclovias, mas, na sua visão, elas devem ficar em vias menos movimentadas e "sem passar na frente de escolas e hospitais".

Críticas. O diretor de planejamento da ONG Ciclocidade, Daniel Guth, critica a alteração. "Se essa intervenção representar uma volta maior para o ciclista é um problema e nenhum ciclista vai respeitar." Segundo ele, a Prefeitura abriu uma brecha prejudicial aos ciclistas em seu plano de expansão de ciclovias. "Eles subjugaram o que é interesse dos ciclistas para dar espaço àquilo que provoca menos ruído no trânsito motorizado, ou seja, nos valets, no estacionamento."

Para Guth, "é normal" que a CET faça ajustes em suas ciclovias, corrigindo erros e melhorando alguns trechos. "Mas, nesse caso, não se trata disso. Trata-se de obviamente de colocar o ciclista novamente atrás do interesse dos carros."

Ele questiona o motivo pelo qual a Prefeitura não decidiu mudar os valets dos estabelecimentos da Vilaboim, em vez da ciclovia. "Por que o carro tem que ser um veículo porta a porta? Por que o valet não pode ficar do outro lado da praça? Qual é a dificuldade de o cara que vem de carro ao restaurante andar 50 metros de onde parou o carro?"

O gerente do restaurante de comida japonesa Sushi Papaia, Antonio Luis de Carvalho, de 44 anos, tem argumentos parecidos ao de Safon para defender a remoção da ciclovia. "Os funcionários dos restaurantes e os donos dos valets estão reclamando da ciclovia. Com ela, é muito complicado de as pessoas estacionarem."

Safon, por sua vez, também se queixa da carga e descarga de produtos para a sua padaria. "Mas mesmo essa coisa de carga e descarga não precisa ser feita na porta, pode ser na rua lateral, e na rua de trás. Mais uma vez colocando a bicicleta na posição histórica de não ser a prioridade. Eu fiquei mal com isso aí", contra-argumenta o ciclista Guth.

A cicloativista Aline Cavalcante teme que a ação abra precedentes ruins. "Por que os motoristas não podem abrir um pouco a mão dos seus confortos? Existem pessoas querendo viver a mobilidade urbana de outro jeito que não de carro. Acho muito egoísta reclamar porque tiraram a vaga do seu carro na rua."

Para ela, a cidade sempre priorizou demais o carro, em detrimento de outros meios de locomoção. "É uma cidade dependente do carro, o que é muito grave. O fluxo do carro ficou mais importante do que o fluxo de pessoas. Higienópolis tem essa fama de gente chata e rica que muda o planejamento da cidade. Mas quem é que manda na cidade? A cidade é de quem? Do dinheiro ou das pessoas?"

Desrespeito.Mesmo sem estar totalmente apagada, o Estado flagrou na tarde desta quinta-feira, 13, vários carros desrespeitando a sinalização e parando sobre a ciclovia da Praça Vilaboim, apesar de a sinalização ainda proibir essa prática. Há várias placas vetando parar e estacionar no local, mas diversos automóveis foram vistos parando para o desembarque de passageiros diante dos pontos de valets.

Por meio de nota, a CET informou que "está fazendo uma adequação em um trecho de 30 metros na ciclovia implantada na região da Vilaboim" e que "a previsão de conclusão dos trabalhos é até semana que vem.

A companhia explicou que, "pelo novo traçado, quando a ciclovia passar pela Rua Armando Penteado seguirá à esquerda pela Rua Aracaju e, na sequência, vai virar à direita na Rua Piauí. No traçado anterior, ao chegar na rua Armando Penteado, a ciclovia seguia à direita pela Praça".

A CET disse ainda que "os poucos ajustes que estão sendo feitos no local contemplam a finalidade de implementação e operação da rede cicloviária na cidade, consonantes aos aperfeiçoamentos necessários".