sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Construtora do Rodoanel negocia novo acesso ao litoral sul paulista

08/09/2015 - Folha de S. Paulo

A construtora que participou das obras do Rodoanel de São Paulo prepara um novo projeto de PPP (Parceria Público-Privada) com a justificativa de desafogar os acessos ao litoral sul do Estado. 

A proposta envolve a construção de uma rodovia de 36 km partindo do Rodoanel Leste, em Suzano (Grande SP), em direção ao porto de Santos. 

Com apoio de prefeituras do litoral, o plano concorre com outros em discussão no governo paulista para ampliar nos próximos anos –após a retomada da economia nacional– as rotas rumo à Baixada Santista, 13 anos após a conclusão da Nova Imigrantes. 

A estrada batizada de Via Mar foi projetada pela Contern principalmente por meio de túnel no parque estadual da serra do Mar –com a justificativa de causar menos impacto e facilitar as licenças, pois não seria preciso abrir canteiros nem fazer estrada de serviço em toda a área de preservação ambiental. 

O projeto prevê um túnel contínuo de 21 km a 23 km, com tecnologia inspirada na do canal da Mancha, entre França e Reino Unido –duas vias interligadas, uma em cada sentido, mas com alguns poços de ventilação. 

Cada via teria 16 metros de diâmetro, suficientes para acomodar três faixas de tráfego em cima e uma ferrovia e faixa de dutos embaixo. 

A ideia é fazer primeiro a estrada, mas deixar espaço para implantar a ferrovia e os dutos numa segunda etapa. 

A primeira fase da obra foi estimada entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões –um pouco superior ao valor do Rodoanel Norte, último trecho do anel viário, com 44 km e previsão de término entre 2017 e 2018. 

Pelo modelo proposto, de PPP, uma empresa deve construir em troca de cobrar pedágio por determinado período. 

A estimativa é que a licitação demore de 12 a 18 meses e a primeira fase da obra seja concluída em quatro anos.

Um projeto preliminar foi apresentado ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) há dois anos, mas foi considerado "inviável" por causa da "conjuntura econômica nacional". 

"O país está em situação delicada, não tem dinheiro sobrando. O governo tem interesse total nessa PPP, mas estão aguardando um momento mais favorável", afirma Wagner Leite Ferreira, ex-professor da Unesp e especialista em portos que assessorou a Contern no projeto. 

O governo diz que "mantém estudos técnicos" para encontrar formas de melhoria no acesso ao litoral paulista. 

Após a ampliação da Imigrantes em 2002, a expectativa era que a saturação das rotas ao litoral voltasse a ser discutida uma década depois. 

CORREDOR LOGÍSTICO 

O projeto de nova rota de acesso ao litoral prevê viabilizar um novo corredor logístico que reduza a dependência do sistema Anchieta-Imigrantes no transporte de cargas. 

Também cria opções que reduzam a dependência de caminhões nessa função. 

Além da estrada, a proposta inclui plataformas logísticas para organização do transporte ao porto de Santos –que recebe 12 mil caminhões/dia. 
"A carga chega a Santos hoje por uma rodovia projetada em 1943, a Anchieta. Além de ser obsoleto, é um sistema precário porque, quando há um acidente na serra, nossa principal saída de exportação fica inacessível", afirma Wagner Leite Ferreira, especialista que participou do novo projeto. 

Em abril, um incêndio em tanques de combustível durou nove dias e restringiu a entrada de caminhões no porto. Resultado: filas quilométricas no acesso a Santos. Em 2013, uma supersafra de grãos fez com que os acostamentos se tornassem estacionamento de caminhões esperando para descarregar. 

Nas plataformas previstas no projeto, a carga pode ser descarregada antes de chegar ao porto e ir ao litoral por ferrovia, em dutos ou outro caminhão. "Acaba com o turismo de caminhão lá embaixo." 

Além de cargas, a ferrovia prevista na segunda etapa também poderá abrigar trens de passageiros.

Fonte: Folha de S. Paulo
Publicada em:: 08/09/2015

domingo, 6 de setembro de 2015

Nova reforma do vale do Anhangabaú vai realinhar a São João

06/09/2015 - Folha de SP|

O vale do Anhangabaú, um dos símbolos do centro de São Paulo, deverá passar em 2016 pela quarta grande transformação de sua história.

A ideia é devolver ao local um pouco da sua concepção urbana original –quando ali, no início do século passado, a várzea natural deu lugar a um parque público.

Agora, o plano da gestão Fernando Haddad (PT) é fazer com que o Anhangabaú volte a reunir paulistanos para shows e grandes eventos em uma esplanada. O local terá ainda bancos espalhados para até 1.500 pessoas.

A estrutura de uma fonte, hoje abandonada, será retirada para desobstruir a passagem entre os dois trechos da avenida São João.

No centro do vale, a novidade serão espelhos-d'água móveis –os jatos, com água de reúso, poderão ser desligados em eventos maiores.

Árvores voltarão a demarcar as ruas do entorno.

"O vale não tem vida hoje, porque ele não tem borda. Com ela ativa, o espaço voltará a ser bom para o uso público", diz Gustavo Partezani, diretor da SP Urbanismo, empresa ligada à secretaria de Desenvolvimento Urbano.

O plano de reurbanização inclui pista de skate e quiosques com cafés, bancas de jornal e banheiros.

A prefeitura fará licitação para a obra, que deverá custar cerca de R$ 100 milhões. A previsão é começar a reforma no ano que vem.


URBANIZAÇÃO

Até o final do século 19, a região do Anhangabaú era usada para plantações, como as de chá, e lavagem de roupa nas águas do rio.

A ideia de urbanizar o trecho entre a rua Libero Badaró e a área onde hoje está o Theatro Municipal só surgiu no início do século passado.

Segundo o arquiteto Pablo Herenú, foi nesta época que o vale deixou de ser um obstáculo geográfico para virar um espaço público –o parque Anhangabaú.

O parque, entretanto, não durou muito, e as grandes avenidas liberaram o espaço para a passagem de carros.

"Nos anos 30, a chegada do automóvel começou a mudar tudo e, em 1950, o conflito entre carro e pedestre estava totalmente instalado", afirma Herenú à Folha.

Nas décadas seguintes, o local foi palco de grandes eventos. Em 1984, recebeu comício histórico das Diretas Já.

PROBLEMAS ATUAIS

Após se transformar de parque em passagem de carros e palco de protestos, o vale do Anhangabaú ganhou os contornos atuais no início da década de 1990.

Uma laje foi construída sobre dois túneis. Um buraco, onde deveria haver um café, com escadarias, cortou o caminho das pessoas que atravessam o vale pela São João.

Agora, a nova reforma proposta divide arquitetos. Enquanto alguns dizem que ela pode induzir mudanças na região, críticos chegaram a chamá-la de "perfumaria" diante dos problemas do centro.

"É absurdo um espelho-d'água numa cidade que não consegue manter nem uma cascatinha", disse em janeiro uma das autoras do projeto dos anos 90, Rosa Kliass.

Herenú elogia o fato de o vale estar no centro do debate, mas defende obras menores e graduais para testar a aceitação dos frequentadores.